Endometriose profunda: o que você precisa saber?
Milhões de brasileiras em idade fértil sofrem com dores intensas todos os meses ao final de cada ciclo menstrual. Não bastasse isso, o sexo também é doloroso e engravidar se torna um desafio. Caracterizada pela presença do endométrio fora da cavidade uterina, a Endometriose Profunda afeta 15% das mulheres em idade reprodutiva. Segundo dados da Associação Brasileira de Endometriose, no Brasil, são cerca de 6 a 7 milhões.
De acordo com o ginecologista do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Dr. Daniel Fabrício Bruns, a endometriose ocorre quando o tecido que reveste internamente o útero – o endométrio – cresce e/ou se desloca para outras partes do corpo da mulher. Assim, o tecido é chamado de implante. “Os principais sintomas são dor e infertilidade. Aproximadamente 20% das mulheres têm apenas dor, 60% têm dor e infertilidade e 20% apenas infertilidade”, completa o ginecologista do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Dr. Sérgio Luiz Schlindwein.
A endometriose, segundo Dr. Daniel, ainda é uma doença difícil de diagnosticar por meio do exame físico, ou seja, durante a consulta ginecológica de rotina. “Os exames de imagem são os mais adequados para identificar o problema, sendo o ultrassom para mapeamento da endometriose e a ressonância magnética da pelve os mais indicados”, aponta.
Conforme o ginecologista Dr. João Luiz Fabrin Ascoli, membro do Corpo Clínico do Hospital Santa Catarina de Blumenau, o crescimento do endométrio faz parte do ciclo reprodutivo da mulher. Assim, ao longo desse período, o tecido cresce, e quando não ocorre a gravidez ele é eliminado em forma de menstruação. “Entretanto, em algumas mulheres as células desse tecido migram no sentido oposto, podendo subir pelas tubas e chegar à cavidade abdominal, multiplicando-se e provocando a endometriose”, explica Dr. João.
Não há consenso sobre as causas que levam ao desenvolvimento da endometriose. Contudo, alguns estudos associam o fluxo menstrual intenso e frequente a maior chance de desenvolver a doença. Assim como outros associam o problema ao uso do anticoncepcional.
Dessa forma, consumir muito álcool e cafeína são hábitos que também têm sido associados ao aumento do risco ou piora do quadro de endometriose. Entretanto, fazer atividades físicas parece diminuir as chances de desenvolver a doença. “Ainda é difícil saber o quanto os genes realmente são relevantes em relação a outros fatores, como etnia e fatores ambientais”, destaca Dr. Schlindwein.
Segundo Dr. Felipe José Koleski, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Santa Catarina de Blumenau existem dois tipos de tratamento que podem ser usados para combater as dores da endometriose: medicamentos ou cirurgia. Cada um deles tem suas especificidades e cabe ao ginecologista avaliar a gravidade da doença e recomendar o melhor tratamento. “Vale lembrar que, dependendo da situação, ambos os procedimentos são feitos de maneira integrada”, ressalta.
Tratamento clínico:
Quando se opta pelo tratamento clínico podem-se utilizar diversos métodos hormonais. Como pílulas combinadas, que associam estrógeno e progesterona, ou as compostas apenas por progestágenos. Outras opções são os injetáveis, adesivos, anel vaginal ou o DIU liberador de levonorgestrel. Os análogos de GnRH são também opções importantes para o tratamento da endometriose, mas devem ser utilizados por curto período devido a efeitos colaterais. É importante compreender, no entanto, que não existe cura permanente para a endometriose. O objetivo do tratamento é aliviar a dor e amenizar os outros sintomas, como favorecer a possibilidade de gravidez e diminuir as lesões endometrióticas.
Tratamento Cirúrgico:
A cirurgia para o tratamento da endometriose profunda é realizada através da videolaparoscopia. Assim, o objetivo é retirar todas as lesões identificadas, levando os órgãos pélvicos à sua anatomia normal. Esse procedimento exige estrutura hospitalar adequada, equipamento específico e uma equipe especializada na realização desse tipo de procedimento. Em algumas mulheres, a extração completa das lesões só é possível retirando-se, também, os órgãos pélvicos afetados pela doença.
Na opinião do Dr. Felipe, trata-se de um procedimento de alta complexidade. Por isso, tanto o cirurgião quanto o ginecologista precisam de treinamento intenso e conhecimento profundo sobre a anatomia, a doença e suas peculiaridades. “É uma cirurgia complexa por acometer vários órgãos ao mesmo tempo e necessitar de cirurgiões de mais de uma especialidade. Afinal ela é de longa duração, por requerer assistência de terapia intensiva pós-operatória. Finalmente, por requerer equipamentos e instrumentos especiais e de alto custo, não disponíveis em hospitais de nível primário ou mesmo intermediários”, afirma.
Outros sintomas da doença:
- Cólicas menstruais intensas e dor durante a menstruação;
- Dor pré-menstrual;
- Fadiga crônica e exaustão;
- Sangramento menstrual intenso ou irregular;
- Dor difusa ou crônica na região pélvica;
- Alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação
- Dor durante as relações sexuais;
- Dificuldade para engravidar e infertilidade.
Texto: Fabiane Moraes.